A disputa eleitoral polarizou-se severamente entre o presidente iraniano, o ultra-conservador Mahmoud Ahmadinejad, e seu principal oponente, o ex-primeiro-ministro Mir Hossei Mousavi, um conservador moderado. Ahmadinejad foi reeleito com 62,6% dos quase 40 milhões de votos, mas Mousavi, que obteve 33,8% da preferência do eleitorado, alegou fraude na apuração e pediu a realização de nova votação.
A suspeita de fraude provocou protestos – concentrados em Teerã – dos simpatizantes do ex-primeiro-ministro, que rejeitaram o resultado das urnas, e dos eleitores de Ahmadinejad, que celebraram sua vitória. Mais de cem líderes de oposição foram detidos no dia em que foi anunciado o resultado da eleição, entre eles Mohammad Reza Khatami, irmão do ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005). Todos foram liberados no mesmo dia.
É improvável. A mais alta instância legislativa do Irã, o Conselho de Guardiões, se recusou a convocar um novo pleito. Contudo, o Conselho afirmou que fará uma recontagem dos votos.
Em primeiro lugar, porque dezenas de milhares de iranianos saíram às ruas para protestar – contra e a favor do governo –, um acontecimento sem precedentes no país desde a Revolução Islâmica, de 1979.
Houve repressão policial, choques e mortes. Não menos importante é a preocupação acerca da instabilidade no país, afinal o Irã é um ator de peso no cenário das relações internacionais.
É o quarto maior produtor mundial de petróleo e gás e exerce grande influência sobre seus vizinhos do Oriente Médio.
Mahmoud Ahmadinejad, de 53 anos, foi governador da província de Ardabil, no noroeste do país, e prefeito da capital nacional, Teerã. Na juventude, foi um ativo membro da Revolução Islâmica e participou da invasão da embaixada dos EUA em Teerã, episódio que selou a interrupção das relações diplomáticas entre os países.
Conservador linha-dura, é contrário a reformas políticas e institucionais internas. No plano externo, especializou-se em atacar os americanos e o estado de Israel.
Sobre os judeus, aliás, tornou-se famoso por ofender a história e defender o indefensável: a esdrúxula versão de que o Holocausto – o assassinato de cerca de 6 milhões de judeus pelos nazistas na II Guerra Mundial – não aconteceu.
A bravata lhe valeu a condenação por parte de nações de todo o mundo, incluindo líderes islâmicos. Outro desafio ao mundo foi o anúncio da criação de um programa nuclear, o que resultou em sanções econômicas impostas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mir Hossein Mousavi, de 68 anos, foi primeiro-ministro do Irã entre 1981 e 1989, quando o presidente era o atual líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
Ahmadinejad, que enfrenta acusações de corrupção, é conhecido pela postura conservadora, contrária ao diálogo com os americanos, à qualquer abertura democrática e à concessão de direitos às mulheres.
Seus eleitores são, em maioria, pessoas mais velhas, de classe baixa e menor grau de escolaridade.
Mousavi defende o programa nuclear do rival, visto como fonte alternativa energética para o país, e a manutenção do sistema de governo vigente – no qual clérigos mulçumanos xiitas fiscalizam os políticos eleitos. Mas as semelhanças param por aí. Mousavi é favorável a uma abertura no regime, com mais direitos democráticos e às mulheres e diálogo com os Estados Unidos. Seus eleitores são, em maioria, representantes da classe média, com maior grau de escolaridade.
Desde a Revolução Islâmica de 1979 – em que religiosos xiitas, comunistas e liberais derrubaram a monarquia do xá Reza Pahlevi –, o Irã é regido por um sistema de governo teocrático.
Com o fim da monarquia, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que estava exilado na França, regressou ao país e assumiu o poder, tornando-se a autoridade máxima, o líder supremo, da República islâmica. Após a morte dele, em 1989, assumiu o posto o aiatolá Ali Khamenei, no cargo até hoje.
Ele é responsável por indicar o chefe do Poder Judiciário, os comandantes das Forças Armadas, os diretores das rádio e TVs e seis dos 12 membros do Conselho dos Guardiões – que, entre outra funções, escolhe os candidatos que poderão concorrer às eleições.
No pleito deste ano, mais de 4.000 iranianos tentaram o registro de candidato à Presidente da República, mas apenas quatro foram selecionados.
O líder supremo também pode destituir o presidente, caso considere que este não esteja governando de acordo com a Constituição. Ele é escolhido para um cargo vitalício pela Assembléia dos Peritos, única instância que pode destituí-lo. Seu poder é assegurado pela Constituição, o que lhe garante direito de interferir em assuntos econômicos, religiosos e culturais iranianos.
Em primeiro lugar, porque dezenas de milhares de iranianos saíram às ruas para protestar – contra e a favor do governo –, um acontecimento sem precedentes no país desde a Revolução Islâmica, de 1979.
Houve repressão policial, choques e mortes. Não menos importante é a preocupação acerca da instabilidade no país, afinal o Irã é um ator de peso no cenário das relações internacionais.
É o quarto maior produtor mundial de petróleo e gás e exerce grande influência sobre seus vizinhos do Oriente Médio.
A eleição guardava ainda a expectativa de uma guinada na relação de Teerã com os EUA, que, sob o comando de Barack Obama, tentam restabelecer laços diplomáticos com os iranianos, interrompidos desde 1979 – Ahmadinejad recusa-se a fechar tal entendimento com Washington. Para analistas, a tentativa de reaproximação de Obama foi uma espécie de sinal que os reformistas aguardavam para forçar a modernização e a abertura do Irã, que vive um período de conservadorismo e recessão econômica.
Mahmoud Ahmadinejad, de 53 anos, foi governador da província de Ardabil, no noroeste do país, e prefeito da capital nacional, Teerã. Na juventude, foi um ativo membro da Revolução Islâmica e participou da invasão da embaixada dos EUA em Teerã, episódio que selou a interrupção das relações diplomáticas entre os países.
Conservador linha-dura, é contrário a reformas políticas e institucionais internas. No plano externo, especializou-se em atacar os americanos e o estado de Israel.
Sobre os judeus, aliás, tornou-se famoso por ofender a história e defender o indefensável: a esdrúxula versão de que o Holocausto – o assassinato de cerca de 6 milhões de judeus pelos nazistas na II Guerra Mundial – não aconteceu.
A bravata lhe valeu a condenação por parte de nações de todo o mundo, incluindo líderes islâmicos. Outro desafio ao mundo foi o anúncio da criação de um programa nuclear, o que resultou em sanções econômicas impostas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mir Hossein Mousavi, de 68 anos, foi primeiro-ministro do Irã entre 1981 e 1989, quando o presidente era o atual líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
Admirado pela habilidade na condução da economia durante a guerra com o Iraque (1980-1990), é considerado de linha moderada. Ele é casado com Zahra Rahnavard, ex-reitora da Universidade de Alzahra e conselheira política do ex-presidente Mohammad Khatami. Além de político, Mousavi é pintor e arquiteto e atual presidente da Academia de Artes Iraniana.
Ahmadinejad, que enfrenta acusações de corrupção, é conhecido pela postura conservadora, contrária ao diálogo com os americanos, à qualquer abertura democrática e à concessão de direitos às mulheres.
Seus eleitores são, em maioria, pessoas mais velhas, de classe baixa e menor grau de escolaridade.
Mousavi defende o programa nuclear do rival, visto como fonte alternativa energética para o país, e a manutenção do sistema de governo vigente – no qual clérigos mulçumanos xiitas fiscalizam os políticos eleitos. Mas as semelhanças param por aí. Mousavi é favorável a uma abertura no regime, com mais direitos democráticos e às mulheres e diálogo com os Estados Unidos. Seus eleitores são, em maioria, representantes da classe média, com maior grau de escolaridade.
Desde a Revolução Islâmica de 1979 – em que religiosos xiitas, comunistas e liberais derrubaram a monarquia do xá Reza Pahlevi –, o Irã é regido por um sistema de governo teocrático.
Com o fim da monarquia, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que estava exilado na França, regressou ao país e assumiu o poder, tornando-se a autoridade máxima, o líder supremo, da República islâmica. Após a morte dele, em 1989, assumiu o posto o aiatolá Ali Khamenei, no cargo até hoje.
Ele é responsável por indicar o chefe do Poder Judiciário, os comandantes das Forças Armadas, os diretores das rádio e TVs e seis dos 12 membros do Conselho dos Guardiões – que, entre outra funções, escolhe os candidatos que poderão concorrer às eleições.
No pleito deste ano, mais de 4.000 iranianos tentaram o registro de candidato à Presidente da República, mas apenas quatro foram selecionados.
O líder supremo também pode destituir o presidente, caso considere que este não esteja governando de acordo com a Constituição. Ele é escolhido para um cargo vitalício pela Assembléia dos Peritos, única instância que pode destituí-lo. Seu poder é assegurado pela Constituição, o que lhe garante direito de interferir em assuntos econômicos, religiosos e culturais iranianos.
Sim. No Irã, o presidente da República é eleito pelo povo para um mandato de quatro anos. Ele é o chefe do Poder Executivo e seu cargo é equivalente ao de chefe de governo. Ele é a segunda pessoa mais importante do país, abaixo somente do líder supremo.
Em fevereiro de 1979 o aiatolá Khomeini voltou dos 15 anos de exílio.
Foi no dia 1º de fevereiro de 1979 que o Aiatolá Rouhollah Khomeini voltou ao país, após 15 anos de exílio e de oposição ao xá, e foi recebido por uma multidão fervorosa que gritava seu nome.
O país hoje é resultado de um governo muçulmano que praticamente eliminou a oposição e restringiu algumas liberdades em nome dos valores da revolução - "a mais popular do mundo moderno", segundo Charles Kurzman, professor da Universidade da Carolina do Norte e autor de "The Unthinkable Revolution in Iran" ("A impensável revolução do Irã", inédito em português).
Em 1963, ele lançou uma campanha de modernização e ocidentalização, a chamada 'revolução branca'.
A prosperidade realmente chegou a muitos iranianos. Uma classe média surgiu. Mas eles reclamavam da liberdade que tinham os britânicos sobre seu petróleo e seu território.
A polícia secreta (Savak) manteve centenas de prisioneiros e matou outros tantos. Muitos deles eram clérigos radicais que, depois da queda do xá, subiram ao poder.
Um desses religiosos era o Aiatolá Khomeini, que em 1964 foi pego em sua casa e obrigado a deixar o país.
No exílio em Bagdá, Khomeini continuou a criticar o xá e suas políticas pró-ocidente.
Sua mensagem chegava às massas por meio de fitas-cassete gravadas durante conversas ao telefone.
Ele se tornou o símbolo da oposição ao regime e à monarquia.
Em 8 de setembro, uma manifestação acabou em matança nas ruas de Teerã. O dia ficou conhecido como a 'sexta-feira negra'.
Em 15 de janeiro de 1979, o xá deixou o país para nunca mais voltar e depois de 15 dias, o aiatolá enfim voltou ao Irã.
Vitoriosa, a revolução deu início a uma república muçulmana.
Os apoiadores de Khomeini que estavam na prisão viraram membros do novo governo. Já os ex-partidários do xá foram executados. Os julgamentos eram muitas vezes secretos e as execuções foram noticiadas e aclamadas por muitos.
"As mudanças não foram totalmente impostas, no sentido de serem aplicadas contra a vontade da população, já que foi uma revolução popular", explica o professor Charles Kurzman. "Mas à medida que se tornou uma coerção, muitos iranianos votaram por mudanças significativas no sistema. Uma mudança importante que a revolução trouxe foi o sentimento de que eles merecem um sistema político que reflita seus valores - nesse sentido, a revolução aumentou muito a expectativa popular por representação política."
O iraniano tem uma vida dupla, vivendo entre o atraso e a esperança
O mais enérgico movimento social a emergir no Irã desde 1979 foi o das mulheres.
videos e slide-show:
Revista Época
G1 - Globo. com
Revista VEJA
VEJA online
(texto antes das eleições)
Em fevereiro de 1979 o aiatolá Khomeini voltou dos 15 anos de exílio.
A monarquia do xá foi derrubada e um estado islâmico foi instaurado.
Nos primeiros dez dias deste fevereiro, o Irã comemora os 30 anos da revolução que derrubou o regime pró-ocidente do xá Reza Pahlevi e instalou no país uma república fundamentalista islâmica.
Foi no dia 1º de fevereiro de 1979 que o Aiatolá Rouhollah Khomeini voltou ao país, após 15 anos de exílio e de oposição ao xá, e foi recebido por uma multidão fervorosa que gritava seu nome.
O país hoje é resultado de um governo muçulmano que praticamente eliminou a oposição e restringiu algumas liberdades em nome dos valores da revolução - "a mais popular do mundo moderno", segundo Charles Kurzman, professor da Universidade da Carolina do Norte e autor de "The Unthinkable Revolution in Iran" ("A impensável revolução do Irã", inédito em português).
A ira do povo com o xá vinha de longa data. Ele estava no poder desde 1941 e havia feito mudanças importantes no país.
Em 1963, ele lançou uma campanha de modernização e ocidentalização, a chamada 'revolução branca'.
A prosperidade realmente chegou a muitos iranianos. Uma classe média surgiu. Mas eles reclamavam da liberdade que tinham os britânicos sobre seu petróleo e seu território.
Durante a Guerra Fria, o Irã impôs um regime de perseguição a comunistas e a opositores a suas reformas.
A polícia secreta (Savak) manteve centenas de prisioneiros e matou outros tantos. Muitos deles eram clérigos radicais que, depois da queda do xá, subiram ao poder.
Um desses religiosos era o Aiatolá Khomeini, que em 1964 foi pego em sua casa e obrigado a deixar o país.
No exílio em Bagdá, Khomeini continuou a criticar o xá e suas políticas pró-ocidente.
Sua mensagem chegava às massas por meio de fitas-cassete gravadas durante conversas ao telefone.
Ele se tornou o símbolo da oposição ao regime e à monarquia.
Em agosto de 1978, o xá atacou abertamente Khomeini em um artigo publicado num jornal. Foi o estopim para greves e manifestações que uniram a oposição. As manifestações se intensificaram e levaram à imposição do estado de exceção no país.
Em 8 de setembro, uma manifestação acabou em matança nas ruas de Teerã. O dia ficou conhecido como a 'sexta-feira negra'.
Khomeini saiu do Iraque e foi para a França. Ainda que no exílio, as massas gritavam seu nome nas ruas.
Em 15 de janeiro de 1979, o xá deixou o país para nunca mais voltar e depois de 15 dias, o aiatolá enfim voltou ao Irã.
Vitoriosa, a revolução deu início a uma república muçulmana.
Os apoiadores de Khomeini que estavam na prisão viraram membros do novo governo. Já os ex-partidários do xá foram executados. Os julgamentos eram muitas vezes secretos e as execuções foram noticiadas e aclamadas por muitos.
"As mudanças não foram totalmente impostas, no sentido de serem aplicadas contra a vontade da população, já que foi uma revolução popular", explica o professor Charles Kurzman. "Mas à medida que se tornou uma coerção, muitos iranianos votaram por mudanças significativas no sistema. Uma mudança importante que a revolução trouxe foi o sentimento de que eles merecem um sistema político que reflita seus valores - nesse sentido, a revolução aumentou muito a expectativa popular por representação política."
O iraniano tem uma vida dupla, vivendo entre o atraso e a esperança
O mais enérgico movimento social a emergir no Irã desde 1979 foi o das mulheres.
Apesar de obrigadas a esconder os cabelos com lenços pretos, as iranianas conquistaram posições importantes no governo, na universidade e na imprensa.
Não é uma situação comum no mundo islâmico, sobretudo nos países árabes. Ao contrário, as mulheres são privadas de direitos básicos na maioria deles e não há notícia de nenhuma organização pelos direitos femininos que tenha sobrevivido por muito tempo.
A situação de inferioridade da mulher no Islã decorre, sobretudo, dos costumes patriarcais, mas a religião desempenha seu papel. Inspirada nos preceitos do Corão, a lei concede ao marido o direito de repudiar a esposa, sem que ela possa contestar ou pedir pensão.
Na situação inversa, o divórcio exige da mulher longas batalhas judiciais. Em muitas nações, a mãe divorciada só pode criar as filhas até os 12 anos e os filhos até os 10. Daí em diante são entregues ao pai. Em vários países, a viúva não tem direito à herança do marido, repartida apenas entre a prole masculina.
Em 2000, os eleitores deram aos candidatos reformistas uma espetacular vitória no Irã.
Não demorou muito para que os aiatolás de linha dura, que detêm o poder real no país, fossem à forra: proibiram a circulação de dezesseis jornais alinhados com o reformismo moderado do presidente Mohammed Khatami.
O recado foi claro. O pessoal de turbante, que há mais de duas décadas tenta enquadrar iranianos nos usos e costumes do século VII, quando o profeta Maomé orientava pessoalmente seus fiéis, não aceita pacificamente o resultado das urnas.
Os dois Irãs, de um lado os reformistas, mais abertos ao Ocidente e ao bem-estar gerado pelo desenvolvimento, e do outro os conservadores, apegados ao obscurantismo fundamentalista, empenham-se agora numa espécie de duelo fatal.
A dicotomia entre o novo e o velho pode ser notada no dia-a-dia das pessoas. É como se houvesse um país público, em que tudo é proibido, e um privado, onde se pode quase tudo.
Em Teerã, é possível observar mulheres vestidas com lenços coloridos em vez do preto tradicional, com as unhas pintadas, o rosto maquiado e com mechas de cabelo aparecendo por baixo do véu. Casais de namorados andam de mãos dadas, apesar da ameaça da polícia religiosa armada de metralhadora e chibata.
A música popular e a dança, banidas após a revolução, renascem às claras. Tudo na mais absoluta e tolerada ilegalidade. Até as antenas parabólicas, mesmo proibidas, começam a proliferar, muitas delas camufladas dentro de tendas.
A florescente indústria cinematográfica do país retrata o processo de mudança cultural.
Grandes nomes, como o diretor Mohsen Makhmalbaf, antes um fiel seguidor do regime dos aiatolás, hoje produzem filmes com conteúdo crítico.
Em parte, os aiatolás estão colhendo agora o resultado de uma política desequilibrada. Antes da revolução islâmica de 1979, apenas 54% da população sabia ler e escrever. Hoje, 72% dela está alfabetizada.
As mulheres foram as que mais aproveitaram a oportunidade. Quase a metade dos universitários do país pertence ao sexo feminino.
Para todos os efeitos, o Irã ainda é um país miserável, com mais de 50% da população vivendo abaixo da linha de pobreza. Bem-educados, os jovens, que são dois terços da população e não vivenciaram a derrubada do xá, cobram agora as mudanças prometidas nas eleições.
Sem o apoio deles, é pouco provável que os aiatolás consigam brecar as reformas. A abertura lenta e gradual preconizada por Khatami deve continuar, mas nada impede que outros percalços apareçam pelo caminho.
No Irã oficial, regido pela batuta severa dos turbantes negros, as mulheres são obrigadas a usar um manto negro, e a ínfima exibição de fios de cabelos pode ser punida com chibatadas públicas.
Tudo o que lembra a cultura ocidental - livros, revistas, discos e filmes - continua banido. Na vida real, é diferente.
No Irã da maioria dos iranianos, a maquiagem e a preocupação com a moda estão de volta ao dia-a-dia feminino. O descompasso tem uma explicação: o clero islâmico, que tenta conservar o poder com mão de ferro, está perdendo a luta pela alma do povo iraniano.
Dois terços da população do Irã têm menos de 25 anos. A maioria não tem nenhum sentimento especial em relação ao xá Reza Pahlevi, o tirano destronado pela revolução islâmica, ou por Ruhollah Khomeini, o aiatolá que liderou o movimento. Também começa a se perder a lembrança da sofrida guerra com o Iraque, que matou 400.000 iranianos e terminou em 1988.
A nova geração de iranianos vive às voltas com as urgências de um cotidiano complicado, de opressão religiosa, isolamento internacional e tremendas dificuldades para tocar a vida.
Como os empregos são escassos, os jovens adiam o casamento até ter dinheiro suficiente e um lugar para viver. As universidades estão tão apinhadas que só aceitam um em cada dez candidatos.
Apesar de algumas restrições terem sido atenuadas, homens e mulheres não podem cruzar-se no mesmo ambiente, exceto se forem parentes próximos. Música laica e bebida continuam proibidíssimas.
Uma parte do drama se explica pela dificuldade de manter um país enorme e vibrante como o Irã à margem do mundo moderno.
Em Teerã, a cidade mais liberal do país, a mensagem do "Grande Satã" (como os aiatolás chamam a cultura ocidental) é consumida com avidez.
O resultado é uma população obrigada a uma vida dupla. Exceto por alguns grupos no exílio, não há contestação organizada ao poder do clero. O que está corroendo o regime é a revolução silenciosa dentro da cabeça dos iranianos.
Apesar de as aulas ainda começarem com o brado ritual de "morte à América", a audiência de emissoras como a CNN e a BBC evidencia o fascínio pela cultura ocidental, sobretudo a americana.
Em 1998, enquanto estudantes reformistas e militantes conservadores se enfrentavam nas ruas de Teerã por causa da prisão do prefeito da cidade, Gholam-Hossein Karbaschi, o jornal Iran, editado pela agência oficial Irna, publicou uma notícia aparentemente irrelevante: as iranianas seriam autorizadas a jogar futebol.
Mulheres e futebol são dois elementos que estão na origem do movimento pela abertura do fechado regime dos aiatolás.
A classificação da seleção do Irã para a Copa do Mundo da França provocou uma irreprimível onda de euforia impossível no país.
As comemorações do empate contra a Austrália, que garantiu a vaga ao Irã, levaram às ruas milhares de pessoas, numa manifestação de massa inédita desde os tempos da revolução islâmica que derrubou o xá Reza Pahlevi, em 1979.
Um considerável contingente dos manifestantes era constituído por mulheres, que pela primeira vez em vinte anos ignoraram a proibição de participar de atos públicos lado a lado com homens. As manifestações foram tão amplas que não permitiram a intervenção dos guardas da revolução, sempre prontos a reprimir qualquer transgressão às normas do Islã.
Uma das características mais marcantes dos fundamentalistas muçulmanos, em qualquer país, é sempre a obsessão por controlar o comportamento da mulher, em todas as esferas.
É por isso que cada "transgressão", por menor que seja - um lenço colorido no cabelo em lugar do preto regulamentar, um toque de batom nos lábios -, ganha dimensão política.
Assim, para as iranianas, tradicionalmente mais independentes do que as mulheres dos países árabes, foi uma considerável vitória obter autorização para freqüentar estádios e a promessa de poder jogar futebol.
Até a revolução dos aiatolás, o Irã era um dos países líderes do futebol no Oriente Médio. Campeã por três vezes da Copa da Ásia, a seleção praticamente havia feito sua despedida dos campos internacionais na Copa da Argentina, em 1978.
A exemplo de outros valores culturais introduzidos pelos colonizadores ingleses no início do século, o futebol passou a ser considerado atividade fútil e sinal de decadência ocidental.
Em matéria de esporte, os fundamentalistas permitiam apenas a luta clássica. Só dez anos mais tarde, coincidindo com a morte do aiatolá Khomeini, o futebol voltou a ser tolerado.
A transmissão de jogos pela televisão, porém, continuou proibida e até bem pouco tempo atrás só era permitida a publicação em jornais e revistas de fotos dos jogadores de meio corpo, sem mostrar as pernas.
O futebol é uma das raras formas de lazer permitidas aos jovens, que não podem dançar nem ouvir música profana, pelo menos em público. O interesse e a paixão pelo esporte crescem no mesmo ritmo da insatisfação popular com o regime.
A revolução Verde (imagens fortes)
Ashura : a cerimonia xiita
Ashura no Iraque e no Irã
Ashura em diferentes países ( cenas forte)
Extras:
Video: Os 30 anos da revolução iraniana
Video: Os 30 anos da revolução iraniana
videos e slide-show:
Conheça o Irã:
Fontes:
revista ISTOÉ
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Revista Época
G1 - Globo. com
Revista VEJA
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