sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Biocombustível ou comida? A questão energética no mundo


Novo presidente terá que lidar com questão energética

Os norte-americanos tentam se tornar independentes do petróleo importado, mas o caminho para a auto-suficiência energética esbarra em uma questão de interesse mundial: a preservação do meio ambiente.
O milharal, no estado de Iowa, vai até onde a vista alcança. A região, conhecida como o "cinturão do milho", inclui 11 estados do Meio Oeste americano. O aumento das lavouras é o resultado do incentivo do governo americano para a produção de biocombustível.
Os subsídios chegam a US$ 4 bilhões por ano. Os Estados Unidos tentam se tornar independentes do petróleo importado do Oriente Médio e da Venezuela, mas o caminho para a auto-suficiência energética é algo que ainda existe apenas em sonhos.
Considerado um país muito mais preocupado em manter suas riquezas do que em combater o aquecimento global, os Estados Unidos agora estão no centro de uma discussão sobre as vantagens e desvantagens da produção do etanol de milho. Já são, pelo menos, 200 usinas abastecendo o país, enquanto são criticadas pelos ambientalistas.
É uma lista de críticas: contaminação dos rios pelo nitrogênio usado nas lavouras; uso de combustíveis fósseis como gás natural e carvão; emissão de gases tóxicos na fumaça das usinas. Os Estados Unidos consomem um quarto do petróleo produzido no mundo e têm apenas 3% das reservas.
subsídio= Quantia que o Estado arbitra (determinar, fixar) ou subscreve (escrever por baixo, assinar, firmar) para obras de interesse público.


O que são os biocombustíveis?

Biocombustíveis são fontes de energia renováveis, derivados de matérias agrícolas como plantas oleaginosas, biomassa florestal, cana-de-açúcar e outras matérias orgânicas. Existem vários tipos de biocombustíveis: bioetanol, biodiesel, biogás, biomassa, biometanol, bioéter dimetílico, bio-ETBE, bio-MTBE, biocombustíveis sintéticos, bioidrogénio.
Mas os principais biocombustiveis são: a biomassa, o bioetanol, o biodiesel e o biogás.
Biocombustível é qualquer combustível de origem biológica, desde que não seja de origem fóssil. É originado de mistura de uma ou mais plantas como: cana-de-açúcar, mamona, soja, cânhamo, canola, babaçu, lixo orgânico, dentre outros tipos.
Ele substitui total ou parcialmente o óleo diesel de petróleo em motores automotivos ou de geradores de eletricidade e calor, por exemplo.

O que é o etanol?
O etanol é um álcool incolor, volátil, inflamável e totalmente solúvel em água, derivado da cana-de-açúcar, do milho, da uva, da beterraba ou de outros cereais, produzido através da fermentação da sacarose. Comercialmente, é conhecido como álcool etílico.
O etanol polui menos que a gasolina.
Mas, no Brasil, as queimadas para o corte de cana e as más condições de trabalho em muitas plantações geram preocupações.
Os maiores produtores de etanol são EUA, a partir de milho (46%), e Brasil, de cana (42%).
O que é o biodiesel?

O é derivado de lipídios orgânicos renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais, para utilização em motores de ignição por compressão (diesel).
É produzido por transesterificação e é também um combustível biodegradável alternativo ao diesel de petróleo, criado a partir de fontes renováveis de energia, livre de enxofre em sua composição. É obtido a partir de óleos vegetais como o de girassol, nabo forrageiro, algodão, mamona, soja.

O que é a biomassa?

A biomassa é uma fonte de energia limpa e renovável disponível em grande abundância e derivada de materiais orgânicos. Todos os organismos capazes de realizar fotossíntese (ou derivados deles) podem ser utilizados como biomassa.
Exemplo: restos de madeira, estrume de gado, óleo vegetal ou até mesmo o lixo urbano.
O máximo está sendo feito para obter a energia da biomassa, já que o petróleo e o carvão mineral têm previsão de acabar, a energia elétrica está cada vez mais escassa (já que essa energia depende da força da água) e a energia nuclear é perigosa.
Outro fator importante é que a humanidade esta produzindo cada vez mais lixo e esse lixo também é capaz de produzir energia, isso ajuda a resolver vários problemas: diminuição do nível de poluição ambiental, contenção do volume de lixo das cidades e aumento da produção de energia.
Vantagens: energia limpa e renovável, menor corrosão de equipamentos, os resíduos emitidos pela sua queima não interferem no efeito estufa, ser uma fonte de energia, ser descentralizadora de renda, reduzir a dependência de petróleo por parte de países subdesenvolvidos, diminuir o lixo industrial (já que ele pode ser útil na produção de biomassa), ter baixo custo de implantação e manutenção.


Pessimismo saudável
O Brasil ainda tem espaço para aumentar sua produção, seja para nos alimentar ou nos transportar. Segundo um cálculo de André Nassar, do Icone, descontando as áreas de conservação, reservas legais e indígenas, ainda dispomos de 36 milhões de hectares (quase um Maranhão inteiro) para cultivo. Mas uma cultura que em cinco anos cresce o equivalente aos estados do Rio de Janeiro e Sergipe somados pode causar problemas.
Para Sérgio Porto, da Conab, ainda não é possível afirmar que a cana está "empurrando" a pecuária para a região amazônica, como dizem alguns analistas, mas a possibilidade é alarmante e deve ser observada.
O governo federal está estudando um zoneamento da cana, e já estão em prática algumas iniciativas municipais. Em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, a lei determina que a cana só pode ocupar 10% do espaço produtivo, para evitar a desestruturação da agroindústria regional (leia-se soja, outro lobby forte).
O otimismo com relação aos biocombustíveis também é questionado por alguns pesquisadores. "Já vi várias alegações de que o etanol de cana fornece nove vezes mais energia do que a usada para a sua produção. Gostaria que isso fosse verdade", diz David Pimentel, professor de ecologia e agricultura da Universidade de Cornell (EUA). De acordo com ele, o saldo é bem menor: 1,38 kcal de etanol para cada 1 kcal de combustível fóssil.
Ainda assim, é um índice melhor que do etanol de milho, próximo de um para um, de acordo com diversas pesquisas, ou com saldo negativo, de acordo com os estudos de Pimentel.Ou seja, para produzir o "álcool americano" gasta-se a mesma quantidade de energia ou até mais do que ele é capaz de oferecer.
Isso se deve a vários fatores, como a necessidade de grandes quantidades de herbicidas, inseticidas e fertilizantes à base de nitrogênio (produzido a partir do petróleo) e uso de diesel para o transporte.
Contas controversas
Os dados de pesquisas variam significativamente. Para Dan Kammer, co-diretor do Instituto do Ambiente da Universidade de Berkeley, na Califórnia, o etanol emite entre 10% e 15% menos CO2 do que a gasolina em seu processo produtivo. "É melhor cultivarmos o milho para produzir etanol para nossos carros do que usar a gasolina e outros combustíveis fósseis", diz. É bom lembrar que, tanto no Brasil quanto nos EUA, a indústria do álcool é subsidiada pelo governo.
O professor de Cornell insiste que a maioria dos biocombustíveis não é sustentável. De acordo com seu estudo, publicado na revista "Natural Resources Research", são necessários 7 mil litros de água para cultivar os 12 quilos de cana usados para a produção de um litro de etanol. E cada litro de etanol gera 10 litros de água contaminada residual. O pesquisador também critica a queima da cana, que gera poluição atmosférica, e as péssimas condições de trabalho dos bóias-frias - problema que vem sendo resolvido, em parte, pela mecanização do processo de colheita.
Por todos esses motivos, Pimentel defende a queima de biomassa como uma alternativa mais barata e eficiente à gasolina. "A produção de energia termal por esse método produz cerca de 10 kcal por 1 kcal de biomassa de madeira investida", diz o pesquisador, que estima que hoje os EUA obtenham cerca de 3% de sua energia da queima de resíduos de madeireiras e de indústrias de móveis.
O desenvolvimento de novas tecnologias é o maior aliado para a evolução dos biocombustíveis. A empresa americana Amyris desenvolveu um método que usa a fermentação produzida pela bactéria Escherichia coli, uma das mais comuns no nosso intestino. Ela transforma o açúcar da cana em compostos de átomos de carbono e hidrogênio, os hidrocarbonetos, gerando um novo tipo de biodiesel. Como essa é a mesma estrutura molecular dos combustíveis de petróleo, pode "pegar carona" no mesmo sistema de oleodutos. "O diesel de cana polui 80% menos que o convencional", diz o engenheiro químico Neil Renninger, que, ressalte-se, é co-fundador da Amyris. A empresa planeja construir uma usina no Brasil em 2009 e colocar seu produto no mercado em 2011. Outros "biocombustíveis de segunda geração" sendo produzidos são os de celulose, alga, madeira e biometano (veja quadro abaixo).
Mas a disputa entre combustível e comida vai muito além do universo energético. Temos de refletir sobre nossos hábitos de consumo. "Trocar gasolina por etanol é importante, mas não o suficiente. Temos de qualificar o transporte coletivo e avaliar o uso dos espaços urbanos e rurais", diz Sergio Porto, da Conab. Isso inclui repensar nossa concentração de culturas agrícolas.
No Brasil, quase 95% da produção é dedicada a apenas três produtos: soja, milho e arroz. Avaliar nosso modelo de desenvolvimento e olhar mais para a área de frutas e outros produtos hortigranjeiros é um dos caminhos para diversificar nossa base. O que também contribui para reduzir problemas atrelados às monoculturas, como maior necessidade de produtos químicos para controle de praga. "Temos de estabelecer regras para minimizar o impacto", diz.
A conclusão é que a solução para esse problema global pode ser regional. O problema da fome no Brasil continua sendo muito mais fruto de má distribuição de renda do que de escassez. "Nós acreditamos no cultivo de alimentos", diz a agrônoma Andréa Fellet, enquanto dirige pela fazenda Lagoa Bonita e observa o milho que logo será colhido. "A população não pára de crescer, vamos produzir para essas pessoas." Se o mercado continuar lucrativo e a expansão da cana for sustentável, não vão faltar arroz e feijão em nossos pratos.
Resumindo:


A grande controvérsia é que o estímulo ao uso de biocombustíveis pode ter um impacto negativo na agricultura e no preço dos alimentos no mundo todo. Há também a questão da biodiversidade, da monocultura de grãos, da redução de habitats para animais e plantas. A recente discussão na cúpula da ONU sobre a crise alimentar ressaltou que os biocombustíveis devem ser controlados, para não agravar a crise dos alimentos. O Brasil foi categórico ao defender que a tecnologia dos biocombustíveis não deve afetar o mercado dos alimentos no mundo. O pessoal do Talk Climate não concorda com isso. Eles acham que é uma solução muito simplista para um problema muito maior, cuja solução estaria na mudança de hábitos de cada indivíduo.

SACIEDADE ALTERNATIVA
Conheça outras fontes que podem gerar biocombustíveis. Alguns já estão no mercado, e outros que devem chegar nos postos nos próximos anos

DIESEL DE CANA>>>O que é: usa a bactéria Escherichia coli para fermentar o açúcar da cana e transformá-lo em hidrocarbonetos, mesma estrutura do petróleo >>>Vantagens: o diesel de cana emite 80% menos CO² do que o diesel tradicional. A centrifugação dos hidrocarbonetos gasta até cinco vezes menos energia do que a destilação do etanol e tem como subproduto um gás que também pode ser usado como fonte de energia

GORDURA ANIMAL>>>O que É: a gordurinha que dá sabor às carnes pode levantar aviões. Um método desenvolvido por engenheiros da Universidade do Estado da Carolina do Norte, EUA, transforma esse óleo em biodiesel para aeronaves.>>>Vantagens: segundo os pesquisadores, o processo é 100% verde, já que não usa combustíveis fósseis. O produto também pode ser usado como aditivo para automóveis com motores a diesel.

ALGA>>>O que é: várias universidades e empresas estudam a alga como matéria-prima de biodiesel. "Ela está entre as plantas mais eficientes na fotossíntese", diz Michael Briggs, da Universidade de New Hampshire>>>Vantagens: as "fazendas" de alga podem ser instaladas em terras que não servem para o cultivo de alimentos, eliminando a concorrência de espaço. Em abril foi inaugurada no Texas a primeira usina de biodiesel de alga do mundo.

PINHÃO-MANSO>>>O que é: uma das sementes que ganha espaço nas pesquisas brasileiras, já usado para automóveis na Índia e testado pela montadora DaimlerChrysler>>>Vantagens: essa oleaginosa é resistente à seca, pouco suscetível a pragas, tem boa produtividade e não requer o uso de agrotóxicos. Em março a BE Agroenergia anunciou que vai instalar uma fábrica de biodiesel de pinhão-manso em Colatina, Espírito Santo.

MADEIRA>>>O que é: o diesel de madeira é dos "biocombustíveis de segunda geração". Criado por pesquisadores da Universidade da Geórgia, EUA, o novo processo aquece lascas de madeira na ausência de oxigênio, resultando em um gás que é condensado em óleo combustível >>>Vantagens: usa resíduos agroindustriais como palha, cortiça e folhas, que, por serem subprodutos das madeireiras, não competem com a produção de alimentos.

MAMONA >>>O Que é: feito a partir da oleaginosa, foi estimulado pela lei que obriga que o diesel brasileiro tenha 2% de biodiesel. A partir de 2013, serão 5% >>>Vantagens: apesar de não ter rendido o que se esperava nos últimos anos, a mamona ainda é promissora. Em novembro passado a empresa americana de biotecnologia Terasol LABS instalou-se no Brasil em parceria com o Sebrae do Ceará para pesquisar e desenvolver novas variedades mais produtivas da semente.

BIOMETANOL>>>O que é: combustível líquido que pode ser usado em motores a diesel e é produzido a partir de biogás coletado de variadas fontes de matéria orgânica, como esterco, esgoto e lixo>>>Vantagens: em 2003, a empresa Smithfield Foods, maior produtora de alimentos a base de carne de porco nos EUA, construiu uma usina experimental para extrair biogás das fezes dos bichos.

CELULOSE>>>O que é: outro biocombustível de segunda geração, feito a partir de vários vegetais. A grande promessa na área é o sorgo, gramínea de rápido crescimento >>>Vantagens: No Brasil, a Petrobras montou uma unidade experimental com a UFRJ para produzir etanol de celulose de bagaço de cana. O plano é construir uma usina semi-industrial em 2010. Mas a produção cara ainda inviabiliza sua comercialização.

COLZA>>>O que é: semente das flores desse tipo de repolho é a principal matéria-prima de biodiesel na Europa. >>>Vantagens: apesar de os investimentos serem criticados por especialistas, já que os países europeus não têm muita área livre para expandir suas plantações, a colza apresenta alta produtividade. Além disso, é importante na rotação de culturas, já que torna os nutrientes do solo disponíveis durante várias safras e reduz a incidência de pragas

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