Lindo filme, que te faz refletir de forma divertida sobre as suas escolhas na vida, pois cada escolha é uma renúncia. ADOREI!
A partir de dois anos para cá, minhas fotos de quando eu era criança (...) começaram a me dar uma agonia leve, algo como (...) uma espécie de discreto e profundo arrependimento. (...) Fico querendo pedir desculpas para aquele sujeitinho na foto: “Desculpe, eu decepcionei você. Eu era a pessoa que deveria tomar conta de você, mas fiz uma cagada: tomei decisões erradas em momentos ruins e transformei você em mim. – Nick Hornby, Alta Fidelidade.
Quem conhece o romance do escritor inglês pode não ver muitos pontos em comum entre seu protagonista, Rob Fleming, e a personagem principal de A Dona da História, Carolina. No entanto, achei pertinente usar esse trecho do livro para ilustrar a essência da comédia romântica dirigida por Daniel Filho.
No filme, é como se a protagonista do longa, já madura no início do filme, olhasse para seu retrato aos 18 anos e chegasse à conclusão que talvez não tenha tido uma vida tão empolgante como achava que teria.
A Dona da História mostra o encontro de uma mesma personagem, Carolina, em dois tempos diferentes. Nos tempos atuais (Marieta Severo), ela já tem mais de 50 anos. Casada com o primeiro namorado, Luís Cláudio (Antônio Fagundes), com quem teve três filhos, ela não tem muitas histórias realmente interessantes para contar. Vendo-se em uma crise, daquelas que são capazes de acabar com casamentos e provocar verdadeiras reviravoltas, ela resolve se separar.
Será que Luís Cláudio era realmente o amor de sua vida? Afinal, como ela mesma diz, “é muita sorte o amor da sua vida aparecer justamente na sua vida.” Confusa, em meio a considerações sobre o que poderia ter acontecido se ela não tivesse casado e lembranças desse grande amor (que, para ela, acabou), ela reencontra sua própria figura quando tinha 18 anos (Débora Falabella).
Sonhadora, romântica e cheia de planos para o futuro, a jovem Carolina aparece em sua vida como uma forma dela pensar no que poderia ter acontecido com sua vida se ela não tivesse se casado com Luís Cláudio (Rodrigo Santoro na juventude); se ela tivesse seguido uma carreira de atriz, como sempre sonhara; se ela tivesse terminado com ele e namorado outro cara qualquer. Se... Perdida entre tantas elucubrações, Carolina também se lembra da paixão entre os dois no início do romance. Pesando as conseqüências que esse casamento causou em sua vida, a Carolina madura resolve se, de fato, deve continuar com essa mesma vida que escolheu ou se engata uma revolução no alto de seus cinqüenta e poucos anos.
Claro, a proposta da protagonista é dolorosa: olhar para trás e analisar se suas expectativas na juventude se concretizaram não é fácil. Pensar no “e se...”, nas possibilidades desperdiçadas e nos caminhos escolhidos não é tarefa grata nem aos mais bem sucedidos. No entanto, há tamanha leveza em A Dona da História que tal tarefa nem parece ser tão ingrata quanto parece, muito pelo contrário.
O filme faz com que esses tão horripilantes balancetes que fazemos em momentos de crise pareçam necessários para que se saia de uma estagnação. Mais do que propor ao espectador que olhar para trás não é tão doloroso quando se percebe que o saldo (quase) sempre é positivo, A Dona da História é uma ode ao romance, uma prova que a vida cotidiana não precisa ser tão temida. Em tempos de relacionamentos efêmeros, é sempre bom ver um filme dedicado aos casais que passam décadas e décadas juntos, superam as crises e provam que, sim, o amor de sua vida pode aparecer justo na sua. Porque todo mundo precisa de sorte, nem que seja somente no amor.
VOCABULÁRIO:
ODE= Entre os antigos gregos, composição em verso que se destina a ser cantada. Composição poética de caráter lírico, composta de estrofes simétricas.
ELUCUBRAÇÃO/LUCUBRAÇÃO: Meditação grave, cogitação profunda.
FONTE: http://br.cinema.yahoo.com/dvd/filme/11991/critica/8877/adonadahistoria
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