Os norte-americanos tentam se tornar independentes do petróleo importado, mas o caminho para a auto-suficiência energética esbarra em uma questão de interesse mundial: a preservação do meio ambiente.
O milharal, no estado de Iowa, vai até onde a vista alcança. A região, conhecida como o "cinturão do milho", inclui 11 estados do Meio Oeste americano. O aumento das lavouras é o resultado do incentivo do governo americano para a produção de biocombustível.
Mas os principais biocombustiveis são: a biomassa, o bioetanol, o biodiesel e o biogás.
Biocombustível é qualquer combustível de origem biológica, desde que não seja de origem fóssil. É originado de mistura de uma ou mais plantas como: cana-de-açúcar, mamona, soja, cânhamo, canola, babaçu, lixo orgânico, dentre outros tipos.
O etanol polui menos que a gasolina.
Os maiores produtores de etanol são EUA, a partir de milho (46%), e Brasil, de cana (42%).
O é derivado de lipídios orgânicos renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais, para utilização em motores de ignição por compressão (diesel).
O que é a biomassa?
A biomassa é uma fonte de energia limpa e renovável disponível em grande abundância e derivada de materiais orgânicos. Todos os organismos capazes de realizar fotossíntese (ou derivados deles) podem ser utilizados como biomassa.
Para Sérgio Porto, da Conab, ainda não é possível afirmar que a cana está "empurrando" a pecuária para a região amazônica, como dizem alguns analistas, mas a possibilidade é alarmante e deve ser observada.
O governo federal está estudando um zoneamento da cana, e já estão em prática algumas iniciativas municipais. Em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, a lei determina que a cana só pode ocupar 10% do espaço produtivo, para evitar a desestruturação da agroindústria regional (leia-se soja, outro lobby forte).
O otimismo com relação aos biocombustíveis também é questionado por alguns pesquisadores. "Já vi várias alegações de que o etanol de cana fornece nove vezes mais energia do que a usada para a sua produção. Gostaria que isso fosse verdade", diz David Pimentel, professor de ecologia e agricultura da Universidade de Cornell (EUA). De acordo com ele, o saldo é bem menor: 1,38 kcal de etanol para cada 1 kcal de combustível fóssil.
O professor de Cornell insiste que a maioria dos biocombustíveis não é sustentável. De acordo com seu estudo, publicado na revista "Natural Resources Research", são necessários 7 mil litros de água para cultivar os 12 quilos de cana usados para a produção de um litro de etanol. E cada litro de etanol gera 10 litros de água contaminada residual. O pesquisador também critica a queima da cana, que gera poluição atmosférica, e as péssimas condições de trabalho dos bóias-frias - problema que vem sendo resolvido, em parte, pela mecanização do processo de colheita.
Por todos esses motivos, Pimentel defende a queima de biomassa como uma alternativa mais barata e eficiente à gasolina. "A produção de energia termal por esse método produz cerca de 10 kcal por 1 kcal de biomassa de madeira investida", diz o pesquisador, que estima que hoje os EUA obtenham cerca de 3% de sua energia da queima de resíduos de madeireiras e de indústrias de móveis.
O desenvolvimento de novas tecnologias é o maior aliado para a evolução dos biocombustíveis. A empresa americana Amyris desenvolveu um método que usa a fermentação produzida pela bactéria Escherichia coli, uma das mais comuns no nosso intestino. Ela transforma o açúcar da cana em compostos de átomos de carbono e hidrogênio, os hidrocarbonetos, gerando um novo tipo de biodiesel. Como essa é a mesma estrutura molecular dos combustíveis de petróleo, pode "pegar carona" no mesmo sistema de oleodutos. "O diesel de cana polui 80% menos que o convencional", diz o engenheiro químico Neil Renninger, que, ressalte-se, é co-fundador da Amyris. A empresa planeja construir uma usina no Brasil em 2009 e colocar seu produto no mercado em 2011. Outros "biocombustíveis de segunda geração" sendo produzidos são os de celulose, alga, madeira e biometano (veja quadro abaixo).
Mas a disputa entre combustível e comida vai muito além do universo energético. Temos de refletir sobre nossos hábitos de consumo. "Trocar gasolina por etanol é importante, mas não o suficiente. Temos de qualificar o transporte coletivo e avaliar o uso dos espaços urbanos e rurais", diz Sergio Porto, da Conab. Isso inclui repensar nossa concentração de culturas agrícolas.
A conclusão é que a solução para esse problema global pode ser regional. O problema da fome no Brasil continua sendo muito mais fruto de má distribuição de renda do que de escassez. "Nós acreditamos no cultivo de alimentos", diz a agrônoma Andréa Fellet, enquanto dirige pela fazenda Lagoa Bonita e observa o milho que logo será colhido. "A população não pára de crescer, vamos produzir para essas pessoas." Se o mercado continuar lucrativo e a expansão da cana for sustentável, não vão faltar arroz e feijão em nossos pratos.
A grande controvérsia é que o estímulo ao uso de biocombustíveis pode ter um impacto negativo na agricultura e no preço dos alimentos no mundo todo. Há também a questão da biodiversidade, da monocultura de grãos, da redução de habitats para animais e plantas. A recente discussão na cúpula da ONU sobre a crise alimentar ressaltou que os biocombustíveis devem ser controlados, para não agravar a crise dos alimentos. O Brasil foi categórico ao defender que a tecnologia dos biocombustíveis não deve afetar o mercado dos alimentos no mundo. O pessoal do Talk Climate não concorda com isso. Eles acham que é uma solução muito simplista para um problema muito maior, cuja solução estaria na mudança de hábitos de cada indivíduo.
SACIEDADE ALTERNATIVA
DIESEL DE CANA>>>O que é: usa a bactéria Escherichia coli para fermentar o açúcar da cana e transformá-lo em hidrocarbonetos, mesma estrutura do petróleo >>>Vantagens: o diesel de cana emite 80% menos CO² do que o diesel tradicional. A centrifugação dos hidrocarbonetos gasta até cinco vezes menos energia do que a destilação do etanol e tem como subproduto um gás que também pode ser usado como fonte de energia
GORDURA ANIMAL>>>O que É: a gordurinha que dá sabor às carnes pode levantar aviões. Um método desenvolvido por engenheiros da Universidade do Estado da Carolina do Norte, EUA, transforma esse óleo em biodiesel para aeronaves.>>>Vantagens: segundo os pesquisadores, o processo é 100% verde, já que não usa combustíveis fósseis. O produto também pode ser usado como aditivo para automóveis com motores a diesel.
ALGA>>>O que é: várias universidades e empresas estudam a alga como matéria-prima de biodiesel. "Ela está entre as plantas mais eficientes na fotossíntese", diz Michael Briggs, da Universidade de New Hampshire>>>Vantagens: as "fazendas" de alga podem ser instaladas em terras que não servem para o cultivo de alimentos, eliminando a concorrência de espaço. Em abril foi inaugurada no Texas a primeira usina de biodiesel de alga do mundo.
PINHÃO-MANSO>>>O que é: uma das sementes que ganha espaço nas pesquisas brasileiras, já usado para automóveis na Índia e testado pela montadora DaimlerChrysler>>>Vantagens: essa oleaginosa é resistente à seca, pouco suscetível a pragas, tem boa produtividade e não requer o uso de agrotóxicos. Em março a BE Agroenergia anunciou que vai instalar uma fábrica de biodiesel de pinhão-manso em Colatina, Espírito Santo.
MADEIRA>>>O que é: o diesel de madeira é dos "biocombustíveis de segunda geração". Criado por pesquisadores da Universidade da Geórgia, EUA, o novo processo aquece lascas de madeira na ausência de oxigênio, resultando em um gás que é condensado em óleo combustível >>>Vantagens: usa resíduos agroindustriais como palha, cortiça e folhas, que, por serem subprodutos das madeireiras, não competem com a produção de alimentos.
MAMONA >>>O Que é: feito a partir da oleaginosa, foi estimulado pela lei que obriga que o diesel brasileiro tenha 2% de biodiesel. A partir de 2013, serão 5% >>>Vantagens: apesar de não ter rendido o que se esperava nos últimos anos, a mamona ainda é promissora. Em novembro passado a empresa americana de biotecnologia Terasol LABS instalou-se no Brasil em parceria com o Sebrae do Ceará para pesquisar e desenvolver novas variedades mais produtivas da semente.
BIOMETANOL>>>O que é: combustível líquido que pode ser usado em motores a diesel e é produzido a partir de biogás coletado de variadas fontes de matéria orgânica, como esterco, esgoto e lixo>>>Vantagens: em 2003, a empresa Smithfield Foods, maior produtora de alimentos a base de carne de porco nos EUA, construiu uma usina experimental para extrair biogás das fezes dos bichos.
CELULOSE>>>O que é: outro biocombustível de segunda geração, feito a partir de vários vegetais. A grande promessa na área é o sorgo, gramínea de rápido crescimento >>>Vantagens: No Brasil, a Petrobras montou uma unidade experimental com a UFRJ para produzir etanol de celulose de bagaço de cana. O plano é construir uma usina semi-industrial em 2010. Mas a produção cara ainda inviabiliza sua comercialização.
COLZA>>>O que é: semente das flores desse tipo de repolho é a principal matéria-prima de biodiesel na Europa. >>>Vantagens: apesar de os investimentos serem criticados por especialistas, já que os países europeus não têm muita área livre para expandir suas plantações, a colza apresenta alta produtividade. Além disso, é importante na rotação de culturas, já que torna os nutrientes do solo disponíveis durante várias safras e reduz a incidência de pragas
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG83925-7837-203-3,00-BIOCOMBUSTIVEL+OU+COMIDA.html
http://www.verbeat.org/blogs/facaasuaparte/energia-alternativa/
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM903779-7823-ELEICOES+NOS+EUA+DEPENDENCIA+ENERGETICA+E+PAUTA+DA+CAMPANHA,00.html